1
foi-nos dito: instalem-se aqui…
mas alguns de vós não são senão inimigos
por isso partam imediatamente
aprecio-vos do fundo do rio;
vós, no topo, devíeis doar alguma pena aos que estão abaixo…
o refugiado é indefeso,
como sangue que ninguém quer comprar no mercado do petróleo!
2
perdoa-me, desculpa-me
por já não ser capaz de chorar por ti
por não murmurar o teu nome com saudade.
voltei a cara para o calor dos teus braços
não tive amor senão tu, somente tu, e eu sou o primeiro dos que te buscam.
3
noite,
não sabes do Tempo
faltam gotas de chuva
que lavassem os restos do teu passado
e te libertassem do que chamaste piedade…
desse coração… capaz de amar,
de brincar,
e de confrontar-se com a tua fuga desonesta daquela religião flácida
daquele Tanzeel* falso
dos deuses que perderam o orgulho…
* Palavra árabe de dimensão teológica utilizada para descrever como Deus ditou as palavras do Corão ao profeta Maomé.
4
arrotas mais do que nunca…
enquanto os bares abençoam os visitantes
com recitações e sedutoras dançarinas…
acompanhado pelo dj
recitas as tuas alucinações
e teces elogios aos corpos que balançam nos versos do exílio.
Ashraf Fayadh (Instructions Within, The Operating System, Brooklyn, 2008)
Translation José Pinto
Pintura Clemens Hasengschwandtner
Publicado Revista Palavra Comum, Galiza, 2016